Na graça da Divina Luz o Ser é concebido, com a seiva da vida e o sopro do amor. Lembro que vim por uma lágrima da árvore, que chorou de emoção ao ver descer a Divina Luz no casamento do Sol com a Lua, entre o céu imenso e a vasta terra.
Dessa lágrima que em gota do orvalho deslizou numa folha gentil, fui carregada suave pelo ar na aurora silenciosa da manhã e recebida ternamente pela rocha majestosa.
À beira do rio, no fluxo corrente da existência, nasci nutrida e banhada pelos raios do sol que por vezes se despediam da noite e da sua amada luz da lua, seu espelho translúcido. Quando o sol se esconde no horizonte, é para recolher-se e meditar na plenitude do Si mesmo.
Cresci com a árvore me oferecendo sombra e acalento; o ar me abençoando na respiração consciente; a rocha me ofertando suporte; o rio de água pura lavando meu corpo, minha mente e alma. O sol me aquecendo durante o dia, a lua me ninando durante a noite. No terno colo gentil do Ilimitado Pai e da Infinita Mãe, ambos me afagando na doçura da presença sublime.
Os amáveis animais que habitavam esta serena mata, vinham a mim com alimentos colhidos dos frutos e flores, das sementes e ervas. Até que me ensinaram a fazer isso por mim mesma.
E assim, este crescer a fluir e evoluindo integrada entre os elementos e os seres elementais, entre a natureza e os seres vivos, entre anjos e guardiões, entre a diversidade tão única, acreditando no ser natural e espontâneo. Saiba que o vento uiva muitos segredos que ainda não podem ser entendidos por aquele que não se abre à pureza do bom coração.
Os pássaros me ensinaram a cantar; as folhas nas copas das árvores e os bambus me ensinaram a dançar; as flores me ensinaram as virtudes nas cores e toda a diversidade encantada fazendo seu papel em me educar nos reais valores, com respeito, amor e compaixão.
Todo o dia o beija-flor me relembra a graça divina e num beijo recebo o carinho de sua brisa. Em seu vôo ágil, brilha radiante e me sussurra feliz: “Filha da Luz! Tu és Luz!”. Acredito que ele diz isso a todos por onde passa como mensageiro divino, porém nem todos páram para receber a mensagem nesse sinal tão belo e singelo.
Na dança das copas das árvores com o vento, algumas folhas caiam se espiralando em torno de mim. E a brincadeira acontecendo no cultivo de um encanto sem par. Aprender a beleza da integração, aprender a riqueza da simplicidade, aprender na força suave da natureza o que está além de palavras - o sentir...
Um dia, num beijo pela picada da serpente, recebi a magnífica iniciação do renascimento, no poder do veneno encontrei a sabedoria da transmutação. E a força vital que brilhava por meus poros e olhos, me fez ver o outro lado da vida que é a morte contínua de si mesmo.
Enquanto a larva e a borboleta me instruíam em como efetivar a real transformação do Ser, vez ou outra, a chuva deliciosa derramando-se sobre a terra fertilizando a beleza da vida renovada. Outras vezes os planetas e astros brincavam de esconde-esconde, enquanto os cometas e asteróides eram como pequenas estrelas rasgando o azul noturno do céu em raios de luz que escorriam pelo espaço, invocando o chamado do DESPERTAR!
Na agilidade serelepe dos esquilos; na alegria incrível dos cachorros e na liberdade inteligente dos gatos aprendo a amizade da pureza bondosa. Fortaleço-me na ordem e disciplina das formigas, me rendo na entrega das cigarras, e com cada bicho um aprendizado magnânimo.
Sou um terno aprendiz, um eterno imortal...
E um dia conheci os humanos, mas aqui já é outra estória.
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Por Átma